Augusto Melo perde o cargo após votação histórica dos sócios
O Sport Club Corinthians Paulista viveu um sábado de furos e tensão com o impeachment de Augusto Melo sacramentado, um capítulo que já era esperado depois de meses de crise interminável. No Parque São Jorge, 1.413 sócios disseram "sim" para tirar Melo do comando, enquanto 620 tentaram defendê-lo. Com 2.033 votos válidos em meio a um universo de cerca de 10 mil associados, o clube deu a palavra final sobre uma das gestões mais curtas e polêmicas da sua história recente. Essa decisão só fechou a tampa iniciada em maio, quando o Conselho Deliberativo já tinha suspendido o então presidente depois de votação esmagadora.
A votação é só a ponta do iceberg — o Corinthians estava mergulhado em suspeitas que vinham cozinhando em fogo alto fazia meses. O caldo entornou de vez com a investigação da Polícia Civil de São Paulo, que detonou uma operação de lavagem de dinheiro ligada ao contrato milionário de patrocínio com a casa de apostas VaideBet. Assinado em janeiro de 2024, o acordo de R$370 milhões parecia uma virada financeira no papel, mas logo o clube passou a remeter R$700 mil todo mês para uma empresa de fachada com cara suspeita, a Rede Social Media Design Ltda, administrada por Alex Cassundé. O rastreamento policial colou o dinheiro em outra firma fantasma, Neoway Soluções Integradas, tida como ponte do Primeiro Comando da Capital (PCC) para esquentar verba ilícita.

Patrocínio sob suspeita, rombo bilionário e intervenção na presidência
A partir desse estouro, tudo desandou. Em junho de 2024, a VaideBet pulou fora da parceria alegando quebra de cláusula anticorrupção. Melo, junto com os ex-diretores Marcelo Mariano (diretor administrativo) e Sérgio Moura (superintendente de marketing), mais Cassundé, virou réu pelo pacote pesado: lavagem de dinheiro, associação criminosa e furto qualificado — acusações aceitas formalmente pela Justiça paulista em julho de 2025. O Ministério Público quis deixar claro que o caminho desse dinheiro era, nas palavras deles, um "desenho de lavagem por dentro de empresas manifestamente fantasmas", com mais de R$1 milhão circulando sob olhos atentos das autoridades.
O escândalo não bateu só na porta criminal. Auditores rejeitaram as contas de 2024, mostrando o tamanho do buraco: dívidas acima de R$2,5 bilhões faziam o Corinthians balançar como nunca. Os problemas financeiros motivaram debandada — inclusive o diretor de finanças Rozallah Santoro largou o cargo — e o clube passou a ser alvo de críticas por não apresentar as contas auditadas, agravando a sensação de descontrole.
Augusto Melo chegou à presidência em 2023 com a promessa de mudança, encerrando o ciclo do grupo Renovação e Transparência que já durava 16 anos. Teve um lampejo de glória esportiva com o título do Paulistão 2025, mas ficou marcado mesmo pelo turbilhão de denúncias, renúncias e falta total de direção fora de campo.
No vácuo de poder aberto pelo impeachment, quem segura temporariamente as pontas do Corinthians é o primeiro vice, Osmar Stabile, que está desde a suspensão de Melo em maio. O próximo passo é do presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Júnior, que vai convocar eleição indireta, limitada entre conselheiros para candidatos e votantes. O objetivo: preencher a presidência só até o fim de 2026, concluindo o mandato original de Melo.
O clima ainda é de incerteza. Augusto Melo não acompanhou a apuração até o fim — foi embora antes de sair o resultado definitivo, depois da quinta de 16 urnas apuradas. Prometeu brigar contra o impeachment alegando irregularidades no processo e avisa que vai buscar "todos os meios jurídicos adequados". Para a torcida, só resta acompanhar de longe esse episódio hollywoodiano, que mistura política, polícia e futebol em uma novela corintiana que dificilmente terá um desfecho rápido.
Escreva um comentário