Quando Ambipar Environment Solutions S.A. viu suas ações despencarem para menos de R$1,00, o choque se espalhou pelos corredores da B3. Foi na manhã de 6 de outubro de 2025, por volta das 15h02 (horário de Brasília), que as cotações atingiram R$0,93, ponto mais baixo da história da empresa. O recuo de 93% no acumulado do ano‑to‑date transformou a companhia ambiental em um "penny stock" e reacendeu temores de insolvência.
Contexto histórico da Ambipar
Fundada em 1984, a Ambipar cresceu de uma pequena consultoria ambiental em Guarulhos, São Paulo, para líder de gestão de resíduos e emergências, com 8.500 colaboradores em 2024. O pico de valorização chegou a R$38,50 em dezembro de 2024, impulsionado por contratos gigantescos com a Petrobras‑S.A. no valor de R$940 milhões. Em 2025, porém, a combinação de dívida alta, derivativos de títulos verdes e a desvalorização de R$ 12,7 % do real contra o dólar criou a tempestade perfeita.
Desdobramento da crise em outubro de 2025
A sequência começou em 30 de setembro, quando o Conselho de Administração, presidido por Rodrigo Peres, autorizou ação judicial de proteção contra credores, alegando impactos negativos dos derivativos ligados a R$ 2,1 bi de títulos verdes emitidos em 2023. No dia seguinte, as ações já caíam 61,48 %.
Em 3 de outubro, às 15h34, a cotação chegou a R$1,25, desencadeando uma pausa de 30 minutos nas negociações. O ponto de inflexão foi a audiência de João Daniel Pirran de Arruda, ex‑CFO, perante a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em Rio de Janeiro. O evento, marcado como Audiência obrigatória na CVMRio de Janeiro, trouxe à tona a pressão de créditos que exigiam R$1,8 bi em chamadas de margem.
A empresa respondeu ao tribunal que "confia que a Justiça manterá a medida até a apresentação do pedido de recuperação judicial", buscando preservar empregos, contratos ambientais e sua contribuição ao PIB.
Reação de investidores e credores
Analistas da XP Inc. estimaram que a Ambipar precisaria de R$2,4 bi em nova linha de crédito para evitar a falência. Já o relatório do Itaú BBA de 5 de outubro apontava 99,2 % de probabilidade de insolvência dentro de 90 dias.
O impacto imediato foi sentido por BlueBank S.A., banco digital de Maurício Quadrado. Aproximadamente R$1,089 bi dos ativos do banco – 87 % dos fundos Texas I e Arizona – estavam vinculados às ações da Ambipar. O banco registrou 84 despedimentos (50 demissões, 34 pedidos voluntários) e precisou relatar à Sindicato dos Bancários de São Paulo que as posições foram liquidadas antes da queda.
Entre os credores, destacam‑se Banco Bradesco, Itaú Unibanco e Banco do Brasil, que têm até 15 de outubro para formar um comitê de credores sob a supervisão da Maria Clara Silva, juíza da 2ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro.

Impacto no sistema financeiro e no mercado de ações
- Destruição de R$43,66 bi em valor de mercado, de um pico de R$87,5 bi em dezembro de 2024.
- R$3,2 bi de dívida total, com apenas R$417 mi em caixa livre.
- 112.450 acionistas individuais e 37 investidores institucionais afetados.
- Santander Asset Management Brasil detinha 4,3 % das ações, equivalentes a R$187 mi no valor máximo.
O colapso da Ambipar marcou a maior queda do setor ambiental no Brasil desde a falência da OGX em 2013. A volatilidade reverberou nos fundos de investimento que tinham exposição significativa, forçando revisões de risco nas carteiras de bancos e gestoras.
Perspectivas e próximos passos
Conforme a Lei de Recuperação Judicial (Lei 11.101/2005), a Ambipar tem até 31 de outubro para protocolar pedido formal de recuperação. A CVM deverá emitir sanção administrativa até 15 de novembro, enquanto o Banco Central revisará as práticas de risco do BlueBank até 20 de outubro.
Se a empresa conseguir captar o financiamento necessário, pode reestruturar dívidas e manter os principais contratos ambientais. Caso contrário, a falência pode abrir espaço para concorrentes internacionais e provocar nova onda de cautela entre investidores de empresas de sustentabilidade.

Principais fatos
- Data crítica: 6 de outubro 2025 – cotações caem para R$0,92.
- Declaração oficial: Pedido de proteção contra credores em 1 de outubro 2025.
- Valor de mercado perdido: R$43,66 bi.
- Dívida total: R$3,2 bi; caixa: R$417 mi.
- Probabilidade de insolvência (Itaú BBA): 99,2 % em 90 dias.
Perguntas Frequentes
Como a crise da Ambipar afeta investidores individuais?
Mais de 112 mil investidores particulares viram seus investimentos perderem até 93 % do valor em menos de um mês. Muitos ainda mantêm posições, mas enfrentam restrições de liquidez e risco de perda total caso a empresa entre em falência.
Qual o papel da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) nessa situação?
A CVM abriu procedimento investigativo em 4 de outubro por supostas falhas de divulgação. Ela pode aplicar multas, suspender negociação de ações ou exigir ajustes nas demonstrações financeiras, influenciando diretamente a capacidade da Ambipar de captar recursos.
O que o BlueBank S.A. tem a perder com a queda das ações?
O banco tinha cerca de R$1,089 bi alocados em fundos que investiam pesado em Ambipar, o que gerou perdas de quase R$900 mi. Além do impacto direto no patrimônio, o caso pode acarretar sanções regulatórias e exigir reforço de capital.
Quais são as chances reais de a Ambipar conseguir recuperação judicial?
Analistas apontam que a empresa precisa captar, no mínimo, R$2,4 bi em novos recursos. Sem garantias de investidores, a probabilidade de aprovação do plano de recuperação é baixa, mas ainda depende da decisão do juiz Maria Clara Silva e da negociação com os credores.
Como a queda da Ambipar se compara a crises anteriores no setor ambiental?
É a maior desvalorização desde o colapso da OGX em 2013, mas o motivo é diferente: enquanto OGX falhou por dívidas de exploração de petróleo, a Ambipar foi arrastada por derivativos de títulos verdes e perda de confiança dos investidores.
É intrigante observar como o mercado financeiro, em menos de um mês, pode transformar uma gigante da gestão ambiental em quase nada. O colapso da Ambipar revela a fragilidade de modelos baseados em alavancagem e derivativos de risco verde. Quando a confiança desaparece, o preço das ações se torna reflexo de um pânico coletivo, mais que de fundamentos econômicos. Isso nos lembra que a estabilidade é tão volátil quanto o próprio vento que impulsiona a energia limpa.