Uma virada inesperada na história de Fátima
Quando a Globo decidiu trazer Vale Tudo de volta às telas, a expectativa era reviver o golpe de mestre de Glória Pires, que se livrou das consequências e terminou a vida como princesa europeia. O que o público encontrou foi bem diferente: a filha de Raquel, Maria de Fátima, tem seu destino virado de cabeça para baixo.
Na trama original, a vilã escapava das punições graças a um casamento com um príncipe italiano, mantendo o romance com César e desfrutando de uma vida de luxo. No remake, a morte de Odete Roitman corta o último apoio financeiro que Fátima recebia da sogra. Sem esse cheque, a personagem cai em uma espiral de dívidas, apostas e, finalmente, no abandono total.
A série mostra, passo a passo, como o histórico de golpes, traições e até a venda do próprio filho para um casal estrangeiro cobra seu preço. O público acompanha Fátima em uma rua de concreto, cercada por barracos improvisados, água suja e falta de luz. A narrativa não poupa detalhes: a falta de alimento, o medo constante de ser expulsada e a solidão que assombra a mulher que, até então, manipulava todos à sua volta.
O que esse final diz sobre a moral da novela?
Ao contrário da versão de 1988, que provocava discussões sobre impunidade e privilégio, o novo final entrega uma lição quase didática: o vilão paga pelos seus atos. Essa escolha parece responder a uma demanda do telespectador atual, que procura clareza ética e punição clara para quem faz o errado.
Alguns críticos argumentam que a mudança suaviza a crítica social que a novela original fez ao Brasil dos anos 80, quando o “vale tudo” refletia a realidade de corrupção desenfreada. Outros celebram a justiça poética, dizendo que, ao colocar Fátima em um muquifo, a história traz uma realidade que ainda afeta milhões de brasileiros.
Para quem acompanha a produção, o contraste é gritante. Enquanto o original mantinha o romance entre as classes como uma provocação, o remake prefere fechar o círculo: de manipuladora a moradora de um barraco, de quem controla o destino alheio à quem tem o seu próprio ao alcance.
O desfecho também abre espaço para debates sobre a representatividade das favelas na TV. Ao escolher um cenário tão duro, a produção coloca o problema da pobreza em foco, mas ainda corre o risco de usar o sofrimento como mero pano de fundo para moralizar a história.
Em resumo, a nova versão de Vale Tudo troca a ironia da impunidade pela moral tradicional. Fátima, que antes navegava entre tronos e mansões, agora tenta sobreviver nas ruas, lembrando que, no fim das contas, todo mundo pode ser levado à justiça – seja ela jurídica ou narrativa.
Fátima virar moradora de favela foi um soco no estômago... 😭 Tava esperando ela fugir pra Europa de novo, mas esse final me fez parar e pensar. Não é só punição, é reflexo da realidade de muita gente.
A mudança no desfecho não é uma suavização da crítica social - é uma evolução. A versão de 1988 usava a impunidade como espelho da sociedade; a de 2024 usa o sofrimento como chamado à consciência. Não há justiça poética sem reconhecimento da dor real. E isso, sim, é literatura.
Ah, claro... tudo tem que ser 'moralzinho' agora?! O original era genial porque mostrava que o mal NÃO é punido - e isso é a vida! Agora a Globo quer ensinar lição de casa? Pode parar com essa infantilidade, por favor!!!
Escuta aqui: ninguém merece viver na miséria por causa de erros passados, mas ninguém também merece viver como rei depois de destruir vidas. O remake não está moralizando - está humanizando. Fátima deixou de ser um símbolo e virou uma pessoa. E isso é poderoso. Se você não sentiu isso, talvez esteja olhando pela lente errada.
Eu chorei. Sério. Chorei mesmo. 😭😭😭 Quando ela pegou o pão roubado e olhou pro filho que nunca mais viu... meu coração explodiu. A Globo fez algo que a TV brasileira nunca fez: deu dignidade ao sofrimento. Isso é arte.
Talvez o que nos incomode não seja o final, mas o fato de que ele nos lembra que podemos ser Fátima... ou que alguém que conhecemos pode ser. Não é sobre justiça. É sobre empatia. E isso é difícil de aceitar.
Essa 'justiça poética' é uma farsa. A favela não é um lugar de punição - é um sistema estrutural de opressão. Reduzir a história de Fátima a uma lição moral é o mesmo que dizer que pobre é pobre porque merece. Isso é perigoso. E a Globo sabe disso. Eles só querem aplausos por 'coragem' enquanto exploram o sofrimento alheio como entretenimento.
Agradeço profundamente pela oportunidade de refletir sobre esta narrativa. O desfecho, embora perturbador, demonstra uma coerência estrutural com os valores éticos contemporâneos. A escolha de não permitir a redenção através de privilégios, mas sim a confrontação com a realidade social, constitui um avanço significativo na dramaturgia televisiva brasileira.